O consumo de álcool e outras drogas perpetrou de tal forma a realidade das famílias que seu uso é, muitas vezes, camuflado sobre receituários e medicamentos que controlam o humor, delineiam pensamentos, ações e afetos. Para além do estereótipo da dependência química, as “cápsulas” da felicidade, da mansidão, da produtividade e da satisfação plena são comercializadas e distribuídas com indicação profissional ou informal.
Há um conjunto de situações e sintomas que encontram nestas substâncias um certo alívio e uma suposta e imediata solução diante da dor, das frustrações, desajustes, decepções, necessidades, exigências e dificuldades que se impõem ao longo da vida. O passado e suas marcas, o futuro e suas incertas projeções, tudo isto parece se dissolver nas doses em um copo ou comprimido – todos compostos do esquecimento e alienação à própria vida.
– Mas o que há de errado com a criança? É agitada, não se mantém sentada, fala demais e não se concentra, questiona as ordens e não cumpre tarefas.
A ela um comprimido e tudo se “concerta”.
– E o adolescente, será assim para sempre? Cabelo raspado, corpo tatuado, as ideias vão além e já não se diz mais amém. No interior da revolta há um mundo confuso e uma criança que já não volta.
Para ele, um tanto de fluoxetina.
– O adulto está em surto? Somam-se os pedidos dos filhos, suas necessidades de atenção e cuidado, as pressões no trabalho, relacionamentos e outras tantas coisas para resolver. Sem contar as contas, compromissos e outros serviços que se põe a fazer.
Dá-lhe diazepam, citalopram, sertralina, carbamazepina… e também a ritalina para acalmar a rotina de toda a família.
Sem esquecer das “drogas pesadas” e daqueles que vivem abastecidos pelo álcool na estrada do viver…
Qual a diferença das drogas com ou sem licença?
Importa considerar que o uso de medicamentos deve ser cauteloso e bem orientado, ao contrário do que se observa. Importa repensar o hábito de medicar.
Eis as drogas a se combater: o individualismo, o imediatismo, o sedentarismo das relações, o consumismo e tantos outros “ismos” que excitam, alucinam e anestesiam, que cindem a vontade, a liberdade e a responsabilidade, tolhendo a capacidade de olhar para si e para o outro. E tolhendo a sobriedade do viver.