A palavra trauma é definida como uma ferida, um dano ou lesão à estrutura de uma pessoa. Muitas vezes é associada à ocorrência de uma situação extremamente difícil e dolorosa, a qual é tida, por si só, como traumática. A perda de alguém, separações, ataques físicos e psicológicos, abuso sexual, violência urbana ou catástrofes naturais são exemplos de situações potencialmente traumáticas. Utilizamos aqui o termo “potencialmente” para indicar que o sofrimento causado por tais situações não necessariamente incorrerá em dano à estrutura da pessoa. A formação de um trauma não depende apenas da existência de uma grave situação. Deve-se considerar que as experiências são percepções individuais sobre as situações da vida; estas, portanto, são vivenciadas de modos diferentes por cada pessoa. 

Além do fator intrapsíquico, que desenha os modos de enxergar, sentir e lidar com o que acontece dentro e fora de si; a gravidade e a frequência com que os eventos difíceis acontecem, assim como o suporte fornecido pelo meio (e pelas pessoas), determinam a instalação de uma experiência traumática e seus efeitos na vida da pessoa. Em geral, há uma paralisação diante de fatos semelhantes ao que originou o trauma. A angústia provocada por tais situações leva à organização (inconsciente) de defesas que impedem a espontaneidade e levam à repetição de dificuldades nos relacionamentos, no trabalho e nas formas de estar com o mundo interno e externo. 

Não há quem esteja isento de experiências traumáticas. O nascimento, à medida que rompe com a adaptação do bebê ao ambiente intrauterino, exige deste uma nova forma de sobreviver: se antes respirava, era alimentado e aquecido pela ligação ao corpo materno, terá de se adaptar às novas temperaturas, aos alimentos e estímulos do ambiente externo a partir de uma dolorosa e traumática experiência de separação. Neste sentido, podemos dizer que o nascimento inaugura um fenômeno traumático, ao mesmo tempo em que propulsiona o desenvolvimento de um novo ser. Ao longo do desenvolvimento, os obstáculos no caminho e as quedas daqueles que aprendem a caminhar modificam a força, a largura e a direção dos passos. A depender de quem caminha, de quem ampara ou desampara e das condições do meio em que se pisa, podem estas experiências de tropeço (e dor) impedir ou impulsionar o caminhar. 

Fica claro que um trauma não constitui apenas um choque, uma amputação ou lesão que incapacite o indivíduo, no sentido real ou metafórico, mas pode também significar uma modificação no funcionamento do corpo ou da estrutura psíquica da pessoa – resultando em alterações no seu modo de pensar, sentir e agir. Freud (1856-1939), ao analisar as diversas manifestações sintomáticas que dificultavam a vida de seus pacientes, introduziu com o método psicanalítico a possibilidade da elaboração de eventos traumáticos a partir da fala, das lembranças e repetições na cena analítica. 

Acontecimentos na história de vida pessoal e familiar, conflitos internos e situações cotidianas podem demandar excessivamente além das possibilidades individuais de resolução, ocasionando defesas e sintomas que dificultam as relações, o trabalho, a aprendizagem e a criação de novas formas de viver. Porém, assim como a criança que aprende a caminhar necessita de condições seguras e reparadoras para prosseguir após as quedas; assim se faz necessário o encontro analítico diante das quedas e traumas psíquicos.