Falar sobre a infância é falar sobre parte de uma história. Do ponto de vista psicológico, a história de uma pessoa começa antes mesmo do seu nascimento, e está atrelada às histórias da família, da sociedade, da política e economia que engendram seu nascimento.
Ao mesmo tempo em que a criança está sendo formada dentro do útero, ela também está sendo formada fora dele – dentro das ideias, desejos, expectativas e sentimentos de seus pais e daqueles que aguardam o seu nascimento.
Se a gravidez foi planejada ou não, a situação financeira/econômica da família, se há outros filhos ou não, a situação do casal como casal antes, durante e depois da gestação, os conflitos familiares, se os pais estudam e/ou trabalham e até mesmo a situação geral do país, entre outros fatores/acontecimentos, podem direcionar o lugar que será destinado à criança dentro da família e no mundo. Um lugar simbólico e concreto.
Ninguém se constitui sozinho, por isso a forma como a criança será concebida na mente dos pais e como será recebida, é fundamental para sua formação, que não se esgota a esse primeiro momento, mas será constante ao longo da vida.
O olhar de quem cuida da criança é o espelho que ela terá de si mesma. A forma como a criança é olhada, ou concebida dentro dos pais, reflete na forma como ela se comportará e lidará com as diferentes situações da vida – o que reafirmará as ideias iniciais dos pais. Se os pais, por exemplo, veem o bebê como “pequenino” e “frágil demais”, tenderão a pensar que ele é incapaz de se defender ou fazer qualquer coisa sozinho. Serão pais superprotetores (envolverão a criança em cueiros, não permitirão que ela vá ao chão e nem explore o ambiente, por medo/receio de que se machuque ou fique doente). Como consequência, o desenvolvimento, a espontaneidade e a autoestima podem ser limitados – não por dificuldades inerentes à própria criança, mas ao manejo a ela destinado.
A criança que a escola descreve como hiperativa, expressiva, tímida ou apática, entre tantas outras nomenclaturas, precisa ser repensada. E repensada dentro de um contexto, de uma família e um conjunto de ideias e sentimentos que vão, ao longo de sua história, delineando seu próprio modo de ser e agir.